A casa nos conta a sua história

Fechai a casa vós todos que estais dentro de casa.
A casa vai nos dar o seu segredo,
a casa nos vai dizer o que é ela a nossa casa.

Aqui cresceram choros de crianças
Os nascidos choraram
Embalaram-se da sua rede adolescentes
Velhos saíram nos seus caixões,
esticados os pés, hirtos e mudos
como tijolos levados.

Escrevi dos meus versos
Pensei dos meus pensamentos amargurados.
O cabelo comprido
A barba ponteaguda, mal alinhada,
E das mesas sobre as toalhas velhas os pratos fumegantes
a incidência da luz sobre os armários.

Vamos irmãos, tudo é entre sombras.
O medo
O cuidado
As mãos mortas
O pavio do candeeiro
Tudo é recordado.

... E ao comprido da rede que se balouça esticada,
uma cabeça, uma cabeleira preta,
pés que se estiram, mãos alongadas...
Vamos irmãos, eu que estou reparando, de retrato,
esse quadro que se alonga ao longo da parede.



+ História a contar, esse título:
--- Lembrar, de amiga memória, José Gonçalves de Medeiros.




De Poética. Ed FJA 1975

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