Um Touro

Vais morrer, vais morrer...
O cepo do marchante breve te pesará
sobre a cabeça rude....
E tu, pobre animal, sem crime e sem virtude,
nunca mais hás de ver e teu curral distante.

Jamais hás de provar, num mourejar constante,
entre vacas e bois, a revelar saúde
das águas de cristal do mais sereno açude
ou do verde capim do campo mais fartante.

A tua pobre carne há de servir de pasto...
E quando fores nada, quando fores gasto,
te resta esse consolo, o consolo dos mortos:

Morreste para servir, alimentando vidas,
muito franco pesar, muitas dores compridas,
muitos cegos que vão pelos caminhos tortos...
De Poética. Ed FJA 1975
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